Energias renováveis: uma oportunidade

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Energias renováveis: uma oportunidade de industrialização verde para o Brasil

Neste cenário, ao Brasil importa se apresentar como protagonista, uma vez que possui abundância de recursos naturais necessários para tal em comparação com as demais economias do mundo

Estamos acompanhando o forte movimento global para a busca de uma economia de baixo carbono, cujas metas passam pela transição energética por meio de fontes de baixo impacto ambiental. Essa discussão não é de hoje e têm sido a tônica de vários fóruns interacionais, principalmente nas edições da Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP). Neste cenário, ao Brasil importa se apresentar como protagonista, uma vez que possui abundância de recursos naturais necessários para tal em comparação com as demais economias do mundo. Temos as principais variáveis para determinar a direção e a velocidade de uma transição energética justa, enquanto fornecedor de recursos renováveis. Considerando que a energia responde por cerca de 78% das emissões globais, fazer a transição energética é algo incontestável e urgente. Olhando para a oferta do Brasil, temos, da perspectiva da energética (eólicas onshore e offshore, solar, biomassa, PCHs e os biocombustíveis) recursos muitas vezes superiores à necessidade da economia interna brasileira. A grande questão que se coloca para o país na discussão da transição é que partimos para esta corrida numa posição extremamente confortável, com sobra de recurso, mas, se não vier acompanhada por um olhar estratégico, podemos perder a oportunidade de dominar um cenário que atrai investimento e gera emprego e renda. O Brasil pode ainda obter os benefícios oferecidos pela economia global. Pensando na pauta de exportação, podemos partir da própria eletrificação da matriz energética brasileira, que hoje é altamente renovável (cerca de 45% do consumo no país), mas pode ser ainda maior se acelerarmos a substituição nos seus processos produtivos pela energia renovável, tanto elétrica, quanto energética pelos biocombustíveis e hidrogênio verde. A indústria brasileira tem um alto potencial neste sentido. Em um passado não tão recente, os custos desta substituição eram altos, porém hoje, com energias altamente competitivas mundialmente, já é possível substituir processos que, além de reduzir emissões, traz custos mais baixos para a indústria. Essa mudança não interessa apenas ao setor energético. A necessidade desta transição extrapola os limites da energia e chega à indústria exportadora de commodities, que está no cenário global competindo com outras que já seguem num caminho mais claro de economia de baixo carbono. Europa e Estados Unidos saíram na frente. O presidente americano Joe Biden lançou um pacote chamado Inflation Reduction Act que prevê investimento da ordem de US$ 370 bilhões em gastos e abatimento fiscal para incentivar o uso de energias renováveis. Enquanto isso, a União Europeia, além de apresentar um novo pacote de 170 bi de Euros em adição ao New Green Deal, está implementando o Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM), custo que deve incidir na forma de uma sobretaxa às importações a fim de incorporar as pegadas de carbono ao preço final de produtos importados de fora do bloco. Todas as ações de curto e médio prazos. Mas, e o Brasil? Somos muito dependentes das exportações, principalmente a indústria mineral dentre outras e precisamos buscar imediatamente um caminho para manter nossa competitividade internacional. Hoje não só o preço importa, o fator carbono será decisivo para a indústria de commodities. Além do grande potencial para o mercado interno, a política de industrialização verde defendida pela ABEEólica olha para o mercado externo. Num passado recente, não se vislumbrava a exportação de energia, mas, com o advento do hidrogênio limpo, nós temos agora um espaço para exportar nossa energia elétrica renovável a partir da molécula de hidrogênio ou da amônia verde. O Brasil tem essa possibilidade porque é o país com capacidade de produzir a amônia verde e o hidrogênio mais competitivos do mundo, temos recursos naturais para isso. Temos ainda mais vantagem porque o esforço fiscal será menor ou até zero. Não enxergamos a necessidade de tirar recursos do bolso do Estado Brasileiro, para fazer um pacote de industrialização verde, precisamos apenas sinalizar ao investidor que somos um país com ambiente amigável para atrair investimentos. A proposito, essa discussão está ficando antiga e cansativa, estamos falando sobre isso há alguns anos. O Presidente Lula, em recente discurso com o Chanceler Alemão, afirmou que está cansando de ouvir que o Brasil será o país do futuro. Cabe razão ao Presidente. O Brasil é o país do presente. Precisamos transformar a potencialidade de sermos líderes globais em realidade. E faremos isso por meio de um aparato legal regulatório que sinaliza para atração de investimento em hidrogênio, eólica offshore um programa de biogás adequado e a regulamentação do mercado de carbono, tudo passando por uma política com aparato legal. Precisamos de leis e regulação para tornar essa potencialidade efetiva e revisitar nossa economia fazendo, de fato, uma política industrial verde. Nossa capacidade é tão clara que, para eólica offshore, o simples fato de traçarmos a regulação ambiental, já registra uma série de investidores pedindo licenciamento no Ibama. Se já tivéssemos a legislação para o leilão de cessão de offshore, este já estaria realizado. O país é atrativo por natureza. Falta pouco para que o Brasil realmente se torne protagonista neste processo. A política de crédito de carbono é necessária e urgente. Demanda esta que chega, inclusive, aos nossos maiores PIBs, o agronegócio e a indústria de mineração. Sem crédito de carbono, o agrobusiness brasileiro e a indústria de base perderão demanda de exportação, como já vem sendo registrado em alguns casos. Nossos bons ventos e nossas novas tecnologias serão uma das forças mais importantes neste processo. Trabalho este que já começou a ser feito e que agora precisa ser intensificado. O que sabemos, de fato, é que, ou o país entra no processo de descarbonização da indústria ou perderá mercado.

Fonte: Canal Energia / ElbiaGannoum

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