Open Energy no contexto da abertura de mercado

 em Últimos destaques

Open Energy no contexto da abertura de mercado e seus impactos no setor elétrico

Com a abertura de mercado e dados mais acessíveis, a digitalização e a inovação no setor elétrico ganham novo impulso.

Provavelmente você já ouviu falar no Open Banking, certo? O setor financeiro vem se movimentando para uma grande transformação que visa trazer acesso a novos produtos, oportunidades de negócios e facilidades para os consumidores. Com o Open Banking, o sistema financeiro passa a ser mais aberto e os clientes assumem um novo papel no mercado – o de consumo empoderado. Cabe ao consumidor conceder a visibilidade dos seus dados para as instituições financeiras a fim de desburocratizar relações e garantir maiores vantagens às suas negociações.

A transformação digital impulsionada pelo Open Banking abre portas para diversos outros setores, incluindo o setor elétrico. Dados mais acessíveis integrados à tecnologia, estimulam a inovação e a digitalização sem grandes investimentos, possibilitando o conceito de Open Energy.

Este artigo foi inspirado na matéria da Exame, produzida por Danilo Barbosa, sócio e cofundador da Way2 Tecnologia, e Nayanne Brito, da Lemon Energia. Acesse o link aqui para aprofundar seu conhecimento.

Como funciona o Open Banking?

Dentro da realidade atual, os clientes não têm a autonomia sobre o acesso às suas informações e não são capazes de desfrutar das vantagens do compartilhamento estratégico de dados, ainda que queiram.

O Open Banking cria então uma forma de facilitar a troca de dados entre instituições, com o total consentimento do cliente, seja ele pessoa física ou jurídica.  Nesse novo contexto, os clientes de instituições bancárias terão a liberdade de dar visibilidade às suas informações a fim de colher melhores condições de acordo com o seu histórico.

Para que essa dinâmica aconteça, as instituições participantes devem oferecer suporte para as APIs. API é a sigla para Application Programming Interfaces e refere-se à ferramenta tecnológica utilizada para que as companhias financeiras façam o intercâmbio de informações, oferecendo assim o melhor serviço aos seus clientes, com mais rapidez e segurança. Por falar em operações seguras, o Open Banking é desenvolvido com base em rigorosas normas que devem garantir total sigilo de dados. O sistema é criptografado e todas as práticas são fiscalizadas para que as regras de implementação de políticas de segurança cibernética sejam cumpridas em sua totalidade. Cabe lembrar que o cliente pode parar o compartilhamento das suas informações quando quiser.

Com o Open Banking, as empresas também podem compartilhar seus produtos financeiros e alcançar clientes potenciais para ampliar seus negócios. Mas esse é apenas o primeiro passo para a transformação digital no setor financeiro. A abertura de mercado vislumbra também o Open Insurance, Open Investment e o Open Finance.

E como a abertura de dados vai impactar o setor elétrico? 

Ainda que o setor de energia seja altamente regulado e considerado tradicional, ele vem se abrindo para as inovações, conectando-se às novas tecnologias, como o 5G e a inteligência artificial, entre tantas outras mudanças estruturais e significativas para a forma que se gera e consome energia.

No mercado livre de energia, as projeções são interessantes. O Projeto de Lei Nº 414/2021 – que propõe a modernização do setor elétrico e criação da portabilidade da conta de luz -, traz temas que vêm sendo vistos como positivos para o ambiente de comercialização de energia elétrica, e como destaque a abertura do mercado para todos os consumidores. E para garantir a total liberdade de compra de energia do clientes, atores do setor entendem que o open energy é o elemento fundamental na gestão deste consumo. Como destaca Rodrigo Ferreira, presidente da ABRACEEL, em painel da Trilha Regulação realizado pelo Energy Future.

“ABRACEEL está trabalhando uma emenda no PL 414 relacionado ao Open Energy. O dado é do consumidor, e mais do que ser do consumidor, ele tem que ser criado e manuseado para que o consumidor possa dispor de uma forma padronizada dentro de um protocolo”, afirmou Ferreira.

O futuro digitalizado do setor elétrico

Muito tem sido comentado sobre a digitalização no setor elétrico, afinal, a inovação no mercado de energia tem impacto no mundo todo. À medida que a energia passa a ser um serviço essencial integrado às novas experiências de consumo, o setor, incluindo seus produtos e serviços, passa a exigir investimentos em tecnologias cada vez mais disruptivas, a partir de construções colaborativas, reforçando a relevância da inovação aberta no setor elétrico. A Open Energy é um importante passo dessa conquista no cenário brasileiro: um futuro de energia mais digitalizado e distribuído, com foco na eficiência e na sustentabilidade.

Para a criação de soluções tecnológicas personalizadas, a integração de dados se faz fundamental. E assim como no Open Banking, o fluxo de informações na Open Energy deve funcionar a partir das APIs e protocolos de comunicação. Em entrevista para o Canal The Shift, Apolo Lira, head do Energy Future, falou sobre essas mudanças no setor: “a gente vive num mercado financeiro disruptivo, praticamente aberto, e com a energia não vai ser diferente. A gente vem mapeando algumas comercializadoras de energia que já estão fazendo suas APIs funcionando em ambiente de teste, para que as pessoas possam comprar e vender energia através de aplicativos, assim como os bancos vêm fazendo”, afirma Apolo.

O desafio das empresas do setor de energia gira em torno do processamento e do compartilhamento de dados de forma 100% segura. Apolo enfatiza a necessidade de um ambiente seguro para que a troca de informações no setor elétrico seja efetiva: “tudo o que foi pensado em digitalização, agora começa a ser pensado novamente no ponto de vista de cibersegurança, entendendo o que precisa ser modernizado, o que precisa ser reescrito…os próprios órgãos do setor elétrico criaram um marco regulatório de cibersegurança tentando melhorar as soluções que estão indo a mercado com mais proteções, de fato”, conclui.

Em 18 de setembro de 2020, entrou em vigor a LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei 13.709/18). Ela é responsável por regular a coleta, o armazenamento e o intercâmbio de informações pessoais pelos setores privado e público, além de assegurar o direito à portabilidade dos dados. Cabe enfatizar que, como o setor elétrico vem incorporando a tendência da digitalização das suas operações e negócios, a LGPD tem impacto direto no segmento de energia. Afinal, os atores da cadeia energética, sobretudo as distribuidoras de energia, reúnem dados dos seus clientes, que podem ser compartilhados em toda a cadeia, seja na geração, transmissão, distribuição ou comercialização. 

Quais as vantagens da Open Energy? 

Se a eletricidade se tornou essencial à vida moderna e permitiu que a humanidade criasse novos processos e modelos de produção, a chegada da era de dados já é considerada o futuro do setor elétrico e vem potencializando ainda mais a dinâmica do mercado.

A tecnologia e a inovação passam a ser tão relevantes para o mercado de energia quanto à infraestrutura. Com isso, consumidores e empresas saem ganhando: haverá maior oferta de soluções tecnológicas personalizadas para o cliente e a aceleração na digitalização das companhias. Um exemplo prático: se as distribuidoras de energia elétrica também permitissem o acesso dos seus dados, em contrapartida elas poderiam ter acesso às inovações, a formas distintas de relacionamento com os consumidores e, como consequência, novas possibilidades de renda.

Conforme artigo produzido por Nayanne Brito e Guilherme Castro no site da EPBR, no Reino Unido, o modelo de Open Energy teve início em 2008, através da mudança da legislação e da instalação de medidores inteligentes. Nos Estados Unidos, já é realidade desde 2012. Na primeira versão americana, os dados da conta de luz eram disponibilizados em um formato interoperável no site da distribuidora.

‍Já no Brasil, estima-se que a Open Energy faça parte de um futuro bem próximo. Segundo Apolo esse movimento tende a acontecer nos próximos dois anos: “estamos falando de, em 2024, estar em um ambiente totalmente favorável à descentralização da energia”.

A Open Energy no Brasil apresenta um enorme potencial de disrupção – potencial este capaz de estimular a economia de energia no país. Como “proprietários” dos seus dados, os consumidores poderiam, por exemplo, trocar suas informações por descontos na conta de luz ou receber determinado incentivo para reduzir o consumo em certo período do dia. E, não são apenas os consumidores que saem ganhando. Com o acesso [consentido] dos dados dos seus clientes, as comercializadoras podem desenvolver uma precificação de risco mais adequada, de acordo com o exato perfil do consumo.

 

Abaixo algumas das vantagens da implementação da Open Energy no país. São elas:

– Empoderamento do consumidor e autonomia sobre seus dados;

– Mais transparência: auditoria é realizada pelos próprios clientes;

– Criação de novas soluções tecnológicas customizadas;

– Maior competitividade de mercado;

– Mais agilidade e fluidez nos processos e negociações;

– Simetria de informações;

– Redução significativa de custos transacionais.

Mas, implementar a Open Energy requer que os atores da cadeia energética tenham o conhecimento das oportunidades de mercado e possam, inclusive, potencializar esse ecossistema. Vislumbrar o envolvimento de empresas terceiras para atuar desde o financiamento dos medidores inteligentes até a digitalização do pagamento das contas de energia é um caminho. Também é fundamental que os agentes do setor sejam capazes de explicar para os consumidores quais os benefícios do compartilhamento dos dados pessoais e o quão seguro esse processo é.

Diante disso tudo, fica claro: para a modernização do setor elétrico, ignorar a Open Energy é como ignorar a importância da própria eletricidade.

Fonte: Energy Future.

Postagens Recentes

Deixe um Comentário